Dia 05: Sarau das Mulheres de Utopias + Feira de Mulheres Artesãs no Teatro de Utopias.
Categoria: Eventos Março 2023
Maria Firmina dos Reis

Maria Firmina dos Reis é uma das compositoras do livro “A Mulher na Canção” com produção antes da Época do Rádio. Ela foi a primeira romancista a trazer a temática abolicionista, com “Úrsula”. Assinou seu livro com um pseudônimo: “Uma Maranhense”.
Mulher, preta e escritora em pleno século XIX?
Num primeiro momento, teve a necessidade de se ocultar…
APAGAMENTO (jun2020)
A cada dia algo se apaga
A cada dia as lembranças desaparecem
Como as fotos deixadas num baú
Como a folhas borradas na água
Como cartas embaralhadas
Por quanto tempo mais recordará de mim?
Por quanto tempo mais terei seu amor?
Já não me incomodam mais as mesmas perguntas
Não importam mais as duras palavras
Afinal foram marcas que constituíram
Ficou apenas esse amor regalo
Que agora vive só do presente
Que se distancia do passado
Que se escurece no futuro
Com vagas reminiscências
Enquanto você se esquece
As lembranças ficam comigo
Os mimos à criança
Os cuidados à garota
O respeito à mulher
E nossos encontros ficam sempre assim
Sabor de última mordida
Alegria de final de festa
Por de sol de um belo dia
Despedida de uma grande viagem
Foto: depositphotos_334510820-stock-photo-abstract-color-paint-brush-strokes.jpg
Grávida (Mar 2020)
Hoje acordei grávida!
Estranhei, já que sou uma mulher na menopausa.
Não esperava mais
No entanto, a sensação de algo muito especial
Gerado por mim, dentro de mim
Era imensa!
Sim, fertilidade de ideias
Gestações de projetos
Crias nascendo a partir do que ofereço
Ah que sensação maravilhosa!
Pai? Muitos
E ao mesmo tempo, nenhum.
Uma promiscuidade de parceiras e parceiros
Cada um com sua singularidade
Mas olhando pro mesmo horizonte
Gêmeos, trigêmeos, quadrigêmeos!
Várias gestações
Numa grande barriga
Cada uma a seu tempo
Com um preparo e maturação próprios
Sendo nutridas por um cordão de inspiração
Ah quanta alegria!
Estou em trabalho de parto!
Foto: br.depositphotos.com
O VÔO Fev/2020
O VÔO 04/02/2020
Depois que resolvi deixar a montanha russa
Fui experimentar as alturas das núvens
Algo que me deixasse com os pés fora do chão
Esse chão tão conhecido e aprisionador
Decidi pular em voo livre
Sentir a liberdade do ar
Olhar muito mais longe do meu próprio mundo
Além do que eu pudesse imaginar enxergar
Encontrar visões nunca experimentadas
Tão diferente o horizonte quando a gente sai do chão
Conhecer esse novo universo
Que se avista, me convidando a desbravar
A imensidão dos encontros não previstos
A vastidão de um prazer sem limites
O infinito mundo de possibilidades
O tempo que para e se esquece de passar
Como saltar sem cair no vazio?
Como saltar sem nada para amparar?
Apenas a gravidade me puxando com sua força
Me levando pra não sei onde, sem poder voltar
Então me lembrei dos paraquedas
Daquele que construí na minha jornada
Que me garantem uma queda segura
Algo em que realmente posso confiar
Não temo mais o risco da queda
Porque sei que posso assentar
Usando tudo aquilo que aprendi
No passeio da montanha russa sem os braços pra segurar
Foto: arquivo pessoal
A VIAGEM (set2019)
Os trilhos já me guiaram
De repente percebi que vivia sobre eles
Chegava a me confundir com eles
Tornaram minha casa, meu consolo, um alento
Eram um modo de seguir aprendido e até escolhido
Me agarrava a eles como numa montanha russa
Por vezes, levantava a mão desafiando o medo
Mas deixava-me levar por seus caminhos de sobe e desce
Certa hora meus pés tocaram no freio
Fui jogada para fora e perdi a referência
Adoeci sem saber como caminhar
Como andar com pernas próprias?
Cai e senti a terra descalça, meu próprio chão
Vi a força da minha raiz, profunda e rica
Me nutri e descobri que haviam muitas sementes
Adubei cada uma delas com os afetos recebidos
Hoje me encontro numa estrada florida
Passeio sabendo como quero caminhar
Tendo a noção de pra onde quero ir
Mas sem saber ao certo onde vou chegar
Aberta a conhecer e trocar com viajantes
Feliz por cada momento de descoberta
Livre para voar de vez em quando
E pousar para me lambuzar com tantos frutos
Foto: br.pinterest.com
Um carro desgovernado
Há anos me afastei do atendimento clínico psicológico
Mas ontem com o pronunciamento do presidente
E depois com a resposta de Bolsonaro a Doria após receber críticas sobre seu pronunciamento
Meu lado psicóloga despertou novamente.
Uma fala de desequilíbrio e persecutoriedade.
Claramente, a opinião dele parou no tempo.
Muitos de nós chegaram a pensar assim como ele, no início
Que se tratava de um excesso de cuidado, um exagero.
Mas logo os dados foram chegando,
Milhares de mortes e uma tomada de postura mundial.
Aqui no Brasil, imprensa, governos estaduais e municipais apoiaram o pronunciamento do ministro da saúde
E o isolamento se fez necessário porque o vírus corre mais veloz do que os cuidados para lidar com ele.
Mas nosso presidente não se convenceu
Não conseguiu OUVIR uma opinião diferente da própria
Principalmente orientações amparadas pela ciência
Continua acreditando que a terra é plana porque a enxerga assim.
Contra-ataca todos que pensam diferente dele
Principalmente a imprensa. Joga tudo num mesmo saco.
O ataque a Dória foi infantil, fora de contexto, insano
O presidente traz tudo para o lado pessoal
Bolsonaro mostra claramente um pensamento auto-centrado
Não consegue olhar o coletivo
Não tem capacidade para cuidar
Está no comando de um carro que perdeu o controle
Incapaz de freiar, fazer curvas, olhar dos lados, respeitar os pedestres
Incapaz de respeitar os limites de velocidade e avisos de alerta.
É preciso parar esse carro desgovernado
Antes que mais estragos se façam!
Foto: blogdoanobelino.blogspot.com
As Plantas (mar2020)
Cuide das plantas da sua casa
Algumas precisam de água todo dia
Outras, somente uma vez por semana
Há ainda aquelas que se você esquecer
Depois de um mês, ainda estarão lá
Algumas precisam do sol
Outras da sombra
Há as mais sensíveis
Que você tem que ter todo cuidado pra se aproximar
As que precisam que você converse
As que necessitam de adubo
As que precisam de uma poda de vez em quando
As que você só lembra quando murcham
Cada uma tem um lugar na sua casa
Uma importãncia na sua vida
Foi adquirida de um jeito
Umas você foi atrás, outras você ganhou de presente
Em tempos difíceis, elas te alegram
Em tempos tristes, elas também te alegram
Em tempos de celebração, elas também te alegram
Em tempos de luto, elas te consolam
Em tempos em que muita gente pode perder alguma
Cuidar das suas é fundamental!
Fique atento a elas
Encontre meios de assegurar que vivam muito!
Foto: arquivo pessoal